Um misto de alegria, prazer, orgulho tomou conta de mim neste fim de semana. Faço parte do grupo Código desde a sua fundação, vivenciando todos os problemas e enfrentando todas as dificuldades de sermos jovens artistas da Baixada Fluminense, tenho orgulho de pertencer a este coletivo de resistência. Durante os treze anos que participo deste coletivo, nunca tinha participado de outro, sempre fizemos intercâmbios com outros grupos e trabalhos, mas nunca trabalhei fora da minha Cia e ter integrado o trabalho de Medeia foi para mim uma experiência única, nova, desfiadora e muito enriquecedora.

Participar do processo de criação de Medeia e suas Margens transformou a minha vida, chegou num momento em que eu me afirmava como uma mulher capaz, independente e reconstruía minha auto estima, depois de  passar por um processo de separação que me desestabilizou muito emocionalmente. Participei da audição com a única pretensão de ocupar meu tempo, mas aos poucos fui me encantando pela pesquisa, pela proposta de trabalho e desmistificando conceitos, percebendo o quanto fui influenciada por pensamentos machistas ao longo da minha vida... A oportunidade de entrar em contato com literaturas que dialogam sobre a mulher, seu espaço na sociedade, seu corpo, sua voz, me trouxe outras percepções que antes eu não tinha, ou não com tanto embasamento e propriedade como agora. Este trabalho me fez repensar a mulher que eu sou, a tudo que fui submetida e sou por ser mulher, mas principalmente a me amar mais e acima de tudo me respeitar e exigir respeito.

Passamos a manhã de sábado produzindo, montando o espaço cênico e depois do almoço fizemos a passagem técnica; devo confessar que um misto de euforia e preocupação me ocorria, alegria de ter um desejo realizado: Médeias em Japeri e preocupação que tudo desse certo, pois o nosso espaço não tem suporte técnico adequado para iluminação e som,embora deveria estar preocupada com a minha atuação cênica, naquele momento estava mais aflita com a parte técnica. Mas deu tudo certo!!! A apresentação foi linda! E apesar de no dia estar acontecendo a festa de aniversário da cidade, tivemos um bom público para assistir a apresentação. Os olhos estavam atentos e pude perceber que em alguns momentos, algumas pessoas se emocionaram assistindo o trabalho, foi um encontro magnífico.

O experimento cênico Medeia e suas Margens é um trabalho potente e traz a tona, uma discussão que está engasgada em muitas mulheres e que muitos preferem nem discutir, por não admitirem seu próprio machismo, mas ao mesmo tempo é um trabalho delicado, poético, repleto de ancestralidade e respeito pela nossa história. E poder trazer este trabalho para o Espaço Cultural Código, me deu um orgulho tão grande, por fazer parte disso tudo e entregar as pessoas da minha cidade a oportunidade desse encontro, além da emoção de ter meus pais
presentes e a chance de ler a carta para minha mãe, foi indescritível.

No domingo realizamos o momento de troca com oficina sobre o nosso processo de construção cênica, que foi fantástico e que chegou como um banho de renovação de possibilidades para o Código, estamos num momento onde as relações estão desgastadas com os problemas do grupo e foi muito renovador, nós do Código precisávamos muito de um respiro diferente, uma outra proposição de trabalho, todos do grupo, sem exceção, gostaram muito e expressaram a mesma  opinião que eu tive. Depois apresentamos o esboço do espetáculo Censura Livre, que o grupo Código está remontando, agora em formato de arena, para recebermos as inferências das Medeias e depois propomos um exercício cênico, para nos ajudar nas composições cênicas, foi muito produtivo, renovador, um lindo encontro.

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